Mais um ano sem o evento que é o rosto do nosso Nordeste: o Carnaval. Nada de fantasias, marchinhas ou bloquinhos; nada de frevo, nada de axé. O que nos resta são as ruas vazias e a lembrança das épocas em que nossa maior preocupação era como iríamos para as festas, qual a roupa que utilizaríamos ou onde estacionaríamos o carro. Para outros, época de descansar, de fugir da animação, do trânsito louco, da sujeira na cidade da qual reclamaríamos quando tudo terminasse.
Mais um ano em que os noticiários apontam resquícios ainda fortes de uma doença que levou tanta gente querida, causando dor e sofrimento. Que, ano passado, esvaziou nosso Carnaval e nosso São João, lotando os hospitais e isolando as pessoas. Doença que nos obrigou a trocar máscaras alegóricas por máscaras de proteção e de oxigênio e que ainda insiste em permanecer onde não é bem-vinda, por meio de novas variantes.
Só que somos nordestinos, somos fortes, somos guerreiros. Passamos pela seca, pelo preconceito, pelo descaso, mas sempre com a cabeça erguida, sorriso no rosto e mãos estendidas para ajudar quem precisa. Somos historicamente sobreviventes. Nossa alegria, conhecida nacionalmente, não vai ser ofuscada por máscaras cirúrgicas ou pelas festas canceladas.
Sabemos que ingrata não é a quarta-feira, mas sim essa pandemia, que não passa depressa, só para contrariar. Mas que vai passar. E, quando isso acontecer, estaremos novamente juntos nas ruas, mostrando que somos vencedores, que somos nordestinos.
Augusta Diniz
Augusta Diniz é juíza pernambucana em Brasília/DF, escritora, professora e pós-graduada em Direito Público e Direito Penal e pós-graduanda em Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem, Desenvolvimento Humano e Saúde Mental e Comunicação e Oratória.