O Ministério Público de
Minas Gerais (MPMG) descobriu que empresas ligadas a uma organização criminosa
sediada em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, teriam recebido o dinheiro pago
pelo resgate da advogada Anic Herdy, sequestrada no Rio de Janeiro em fevereiro
deste ano.
No sábado (30), o
réu Lourival
Correa Netto Fadiga confessou que matou a advogada, mas o corpo dela
ainda não foi encontrado pelas autoridades. O criminosos teria assassinado a
vítima a mando de uma terceira pessoa, que ainda não teve a identidade
revelada.
A investigação em torno
da morte de Anic se cruzou com uma outra importante investigação do Ministério
Público Federal (MPF). Por meio da Operação Terra Fértil, o MPF, através do
Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado em Minas Gerais (GAECO-MG), denunciou
13 integrantes de uma organização criminosa acusada de lavar dinheiro
proveniente do tráfico internacional de drogas, de associação ao
tráfico e outros crimes violentos contra o patrimônio.
O grupo atuava por meio
de pessoas físicas, que agiam como “laranjas” das lideranças, e de várias
pessoas jurídicas falsas, criadas
apenas para a lavagem de dinheiro. Uma dessas empresas fictícias
recebeu o dinheiro do resgate pago pela família de Anic para libertá-la, o que
comprovaria uma ligação entre os dois crimes.
Ainda segundo o MPMG, a
investigação contra o grupo criminoso começou em 2022, quando Ronald
Roland, um dos líderes da facção, comprou um imóvel de alto luxo
em Uberlândia (MG). A compra foi feita por meio da empresa de fachada Kaupan
Exportação e Importação Alimentícios, e o imóvel foi registrado em nome de uma
“laranja”. Todos os veículos de luxo utilizados pelo traficante e sua esposa
também eram registrados em nome de pessoas jurídicas e de terceiros.
A investigação revelou
que apesar de escolher a cidade mineira como a base de suas operações, o grupo
criminoso atuava em todo o país. Na denúncia, o MPF menciona a existência de
pagamentos feitos por duas empresas do grupo a pessoas diretamente ligadas a
crimes violentos e ao tráfico de drogas, entre eles um homem apontado como o
líder do PCC em Portugal, preso pela Interpol em Abu Dhabi durante a Copa do
Mundo de 2022.
Segundo o MPF, o grupo
movimentava centenas de milhões de reais por meio de empresas fictícias e de
criptolavagem. Além de descobrir a ligação entre as falsas empresas dos
criminosos com o sequestro de Anic Herdy, os investigadores apuraram que um dos
líderes estava lavando os bens das atividades criminosas em uma rede de postos
de gasolina em Uberlândia.
Sequestro e morte de
advogada
A advogada Anic
de Almeida Peixoto Herdy, de 55 anos, desapareceu no dia 29 de fevereiro de
2024, em Petrópolis, no Rio de Janeiro. Ela é esposa do professor
Benjamim Cordeiro Herdy, de 78 anos, herdeiro de um complexo educacional em
Duque de Caxias, responsável pela Unigranrio.
De acordo com o
Ministério Público, o principal suspeito de sequestrá-la é o segurança Lourival
Correa Netto Fadiga. Ele trabalhou com a família da vítima por três anos e,
segundo o Ministério Público do Rio de Janeiro, era amante de Anic.
Lourival foi quem
chamou a advogada para um encontro no dia em que ela desapareceu. Na mesma
data, o marido dela recebeu uma mensagem informando sobre o sequestro e pedindo
um resgate de R$ 4,6 milhões.
A família de Anic pagou
o valor pedido, mas ela não foi liberada. Segundo as investigações, os
depósitos foram feitos entre os dias 6 e 8 de março para 31 destinatários,
entre pessoas físicas e empresas distribuídas em 5 estados (Rio de Janeiro, Rio
Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Paraná), além do Paraguai. As
autoridades acreditam que Anic tenha sido morta por causa de seus investimentos
no mercado de criptomoedas.
O Ministério Público do
Rio de Janeiro e a polícia acreditam que a advogada foi morta e teve o cadáver ocultado pelos sequestradores.
O caso segue sendo investigado pela Delegacia Antissequestro (DAS) da Polícia
Civil do Rio de Janeiro.