Nunca despreze a força
que a Ferrari tem quando é a mandante de campo. Neste domingo (1º), contra
qualquer prognóstico frente a uma McLaren mais uma vez soberana ao longo de
todo o fim de semana, Charles Leclerc resistiu com maestria com apenas uma
parada e levou os apaixonados tifosi à loucura ao vencer o GP
da Itália. Oscar Piastri e Lando Norris completaram o pódio.
O roteiro da corrida se
confirmou desde a primeira volta, pois teve Norris de novo perdendo a liderança
no giro inicial, embora tenha contornado enfim a curva 1 na liderança. Teve
também a Red Bull sofrendo muito com ritmo de corrida abaixo de Ferrari, Mercedes
e McLaren, com Max Verstappen chegando a socar o volante de raiva diante de
mais um erro em estratégias.
E teve a McLaren mais
uma vez se embananando e perdendo uma dobradinha que era obrigatória por todo o
domínio que já vem sendo apresentado na temporada. E se Norris não conseguiu
sustentar o primeiro posto, sumindo de uma briga certa pela liderança, eis que
a Ferrari mostrou quem é que manda em casa.
Diante da apaixonada
torcida, a Ferrari deu o bote com apenas uma parada e colocou Leclerc na
liderança. Carlos Sainz, na mesma tática, ainda tentou resistir, porém era
dificílimo contra aos pneus novos do MCL38 de Norris. Foi, contudo, uma
belíssima atuação de uma equipe que jamais pode ser ignorada no Templo da
Velocidade.
À McLaren, restou o
resto do pódio, derrota talvez das mais doídas. E não teve inversão de posições
entre Piastri e Norris, ainda que o time tenha soltado um “papaya rules” na
metade da prova, indicando um possível favorecimento ao inglês.
Sainz ficou em quarto,
com Lewis Hamilton, Verstappen, George Russell, Sergio Pérez, Alexander Albon e
Kevin Magnussen — mesmo tomando 10s de punição — fechando a zona de pontos.
Os pilotos partiram
para a volta de apresentação com o asfalto ainda mais quente que o visto nos
dias anteriores: 54°C, com termômetros em 34°C e umidade relativa do ar em 33%.
Já prevendo o alto desgaste, a Red Bull optou pela estratégia alternativa da Pirelli,
calçando os carros de Verstappen e Pérez, em sétimo e oitavo, respectivamente,
com os pneus duros. Os seis à frente, no entanto, partiram com os médios para o
stint inicial.
Com todos devidamente
alinhados, as luzes vermelhas se apagaram, e Norris enfim completou a primeira
curva de uma corrida na liderança, enquanto Russell colocou pelo lado de fora
para disputar a freada da 1 com Piastri. Só que o #63 da Mercedes tomou um fecho
do australiano e não viu alternativa a não ser cortar a chicane.
A alegria de Norris,
todavia, durou até a chicane seguinte: pelo lado de fora, Oscar contornou a
primeira perna lado a lado com o companheiro de equipe e ganhou vantagem na
tomada seguinte, efetuando belíssima ultrapassagem e assumindo a liderança. De
quebra, Leclerc ainda se aproveitou e deixou Norris para trás.
Enquanto isso,
Verstappen ganhava uma posição com a largada comprometida de Russell, mas
começava as reclamações pelo rádio, acusando Hamilton, à frente, de tê-lo
forçado para fora da pista em disputa por posição. Na ponta, Piastri tentava
escapar de Leclerc, porém o monegasco ainda se mantinha dentro da zona de DRS.
Já Norris vinha a mais de 2s na terceira posição.
No pelotão
intermediário, na volta 6, enrosco entre Nico Hülkenberg e Yuki Tsunoda, com o
alemão tendo de ir aos boxes para trocar a asa dianteira, agora o detalhe foi
que a Haas simplesmente esqueceu de levar a peça no momento da parada.
Resultado: todo o esforço feito na classificação foi pelo ralo, com Nico
retornando em último.
Volta 11, e Piastri
anotava a mais rápida, colocando 1s1 sobre Leclerc, que agora levava 1s5 para
Norris. No giro seguinte, a Mercedes chamou George para efetuar não somente a
troca de pneus, como também do bico do carro, devolvendo o inglês à pista em 16º
com os pneus duros.
O comportamento da
borracha, de fato, começou a exigir atenção. A McLaren, por exemplo, indagou
Piastri quanto à performance do carro e qual seria a estratégia ideal, só que o
ritmo do carro #81 subiu significativamente comparado ao da Ferrari. Norris também
precisou de mais duas voltas para encostar de vez em Leclerc, mas logo trouxe
para os boxes na 15 para tentar o bom e velho undercut — e fritando pneu e até
atropelando placa de limite de velocidade.
Leclerc e Hamilton
foram na sequência, no giro 16, enquanto Piastri recebeu o chamado da McLaren
para fazer a parada na volta 17 — dois giros depois de Norris, porém conseguiu
retornar à frente do #4.
Enquanto Charles
brigava com a Ferrari pelo rádio por não ter arriscado um stint maior com os
médios e Sainz avisava que seria difícil sustentar apenas uma parada, Albon
fazia o pit-stop obrigatório, retornando atrás de Alonso, em 13º. Com as
posições restabelecidas, o #55 assumia a liderança, com os carros da Red Bull
(Verstappen e Pérez) logo atrás. Piastri, portanto, era o primeiro da fila dos
já com paradas.
Antes de Sainz fazer a
parada na volta 20, veio uma misteriosa mensagem no rádio de Lando não tão
difícil de ser decifrada: “Talvez tenhamos de cobrir o outro carro. São as
regras papaias”, disse o engenheiro, dando claramente a deixa de que, dessa
vez, o #4 seria priorizado no confronto.
Sainz retornou em
sexto. No giro 21, Leclerc era o carro mais rápido, emendando sequência de
voltas mais rápidas na luta para salvar o pódio da Ferrari em casa, mas logo
viu Norris e, depois, Piastri roubar a marca.
Volta 22, e a Red Bull
foi a primeira a deixar claro que viria para duas paradas ao colocar novamente
pneus duros no carro de Verstappen. O problema foi a troca totalmente
comprometida pela roda traseira direita que demorou a sair. Sem conter a fúria,
Max saiu da área de parada socando o volante.
Novamente grid
realinhado, Piastri, Norris, Leclerc, Sainz, Hamilton, Verstappen, Pérez,
Russell, Alonso e Ocon formavam o top-10. Na volta 31, belíssimo pega entre
Pérez e Russell pelo sétimo lugar, com o mexicano prevalecendo. Enquanto isso,
Charles já surgia com DRS para ameaçar a posição de Norris, ao que Piastri
colocava 3s de vantagem no colega de time.
E a previsão de Albon
estava correta. No giro 33, Norris foi chamado para nova troca de pneus, parada
não tão boa, em 3s3, voltando novamente com o jogo de duros. Russell veio na
sequência, e a Mercedes também se enbananou na troca, devolvendo o #63 apenas
em 11º, ainda atrás de Albon.
Volta 37, e Norris, em
sexto, levava cerca de 28s para Piastri na liderança. Pela frente do vice-líder
do campeonato, no entanto, ninguém menos que Verstappen, que logo perguntou se
poderia defender livremente a posição. “Sim, por favor”, ouviu de Gianpiero
Lambiase.
Enquanto Russell enfim
batia Pérez na pista, a McLaren chamava Piastri para a segunda troca,
devolvendo-o exatamente à frente de Verstappen, que já optava pelo traçado
defensivo. Seria, porém, muito difícil, uma vez que o MCL38 rendia absurdamente
melhor que o RB20. Max até tentou ao dar o lado de fora na reta principal, só
que Lando rapidamente pegou o traçado limpo e ganhou a posição antes da curva
1. A diferença entre Piastri e Norris era de 4s7.
Dali em diante, havia
duas possibilidades, com a primeira sendo a mais óbvia, ou seja, a McLaren
pegando o 1-2 assim que a Ferrari parasse mais uma vez. Só que,
surpreendentemente, não foi o que aconteceu, e os laranjas se deram conta de
que teria de ser uma vitória conquistada no braço, na pista.
Sainz foi a primeira
presa e realmente não teve pneu para segurar o time de Woking. Mas Leclerc
seguiu, seguiu firme, seguiu soberano e num ritmo que nem mesmo a Ferrari
imaginou que seria capaz de manter com somente uma troca. Festa da Itália e, de
certa forma, também da Red Bull, que deixou Monza no lucro ao ver a rival
perder mais uma dobradinha certa.
A Fórmula 1 volta de 13 a 15 de setembro em Baku, para a disputa do GP do Azerbaijão, 17º da temporada 2024.