A Fundação Perseu
Abramo, braço do PT que se dedica à pesquisa e à educação política do partido,
criou uma cartilha com orientações “para facilitar” o diálogo com o eleitorado
evangélico no pleito municipal deste ano. O material será divulgado entre aqueles
que se candidatarem pela legenda.
Citações a passagens
bíblicas e a versos consagrados por cantoras de música gospel marcam o
documento, que traz sugestões sobre o que fazer e o que não fazer ao
estabelecer esse tipo de conversa.
Na primeira seção,
aparecem dicas de como valorizar a família, a fé e a liberdade religiosa.
A cartilha afirmará aos
candidatos que “é importante lembrar que o PT criou a Lei de Liberdade
Religiosa”, sancionada por Lula (PT) em 2003, e que o atual presidente da
República também assinou a criação do Dia Nacional da Marcha para Jesus.
“É relevante ressaltar
essas leis não como letras frias, mas para mostrar que o partido e suas
lideranças nunca defenderam o fechamento de igrejas”, diz um trecho do
documento, obtido pela coluna, em referência a afirmações falsas do último
ciclo eleitoral.
Em outra passagem, a
cartilha diz que, nas periferias, muitos núcleos familiares são liderados por
mulheres negras e evangélicas, e pontua que “a família é considerada um bom
caminho para acessar o coração dos evangélicos”.
Por isso, segundo o
documento, destacar políticas públicas voltadas a moradia, trabalho decente e
alimentação e que levem dignidade aos lares pode favorecer o diálogo.
Na seção sobre “o que
não fazer”, a fundação do PT orientará seus candidatos a não exagerarem ao
falar em nome de Deus. “Não tomar o nome de Deus em vão é um dos Dez
Mandamentos (Êxodo, 20) conhecido por todos os cristãos”, diz a cartilha.
“Para quem não
acredita, o melhor é não falar sobre isso e não tentar citar a Bíblia sem a
conhecer, sob risco de prejudicar sua credibilidade e criar resistências.
Lembre-se: só mencione Deus se sua fala for efetivamente sobre ele”,
acrescenta.
Elaborado pelo Grupo de
Trabalho Interreligioso da Fundação Perseu Abramo, o texto ainda recomenda não
associar erros ou crimes cometidos por pessoas evangélicas à fé, seja em
críticas feitas a pastores ou a fiéis.
“Se tem uma coisa que
todos os evangélicos sabem é que todas as pessoas cometem pecados e que nenhuma
delas merece o sacrifício de Jesus ao morrer na cruz. Isso quer dizer que
ninguém deve ser considerado mais cristão que outra pessoa, nem por ter feito algo
bom nem por ter feito algo ruim”, afirma.
Ao final, o documento
diz que os evangélicos não devem ser tratados como se fossem todos iguais nem
vistos como uma grande massa fundamentalista. “Ainda que haja vários
evangélicos conservadores ou moralistas, não convém unificá-los sobre esse tipo
de classificação, muito menos de fundamentalistas.”
“Como já dizia o pastor
[norte-americano] Harry Emerson Fosdick, ‘todo fundamentalista é conservador,
mas nem todo conservador é fundamentalista”, acrescenta.