Até ser presa em São Paulo em 2019, Adelice
Aparecida Queiroz Honorato (foto em destaque), de 38 anos, conhecida
como Viúva Negra, ocupava posição de destaque no Primeiro Comando da Capital (PCC) no Mato Grosso Sul.
As investigações apontam que ela atuava como “sintonia” da organização
criminosa, uma espécie de líder regional que toma decisões estratégicas para a
facção.
De acordo com a Polícia Civil, a
interceptação de trocas de mensagens por WhatsApp mostra que Adelice exercia
forte comando sobre os faccionados no Mato Grosso do Sul.
“Ela indicou um membro
da mesma organização criminosa para exercer a função de disciplina. Também
ficou claro que Adelice tem o poder de indicar e tirar um membro de uma função
dentro da organização criminosa”, diz trecho de relatório policial paulista obtido
pelo Metrópoles.
Nas conversas por
aplicativo de mensagens, a Viúva Negra também discutia questões relacionadas ao
tráfico de drogas local, principal atividade econômica do PCC, além de dar
orientações sobre questões administrativas e manutenção de postos estratégicos
na organização.
Tribunal do Crime
A sintonia do PCC fugiu
de seu estado de origem em setembro de 2019, após comandar uma execução do
Tribunal do Crime do PCC.
A vítima era Érica
Rodrigues Ribeiro, de 29 anos. Ela foi morta com 40 facadas e seu corpo, jogado
às margens do rio Sucuriú, em Três Lagoas (MS). Seu crime? De acordo com a
denúncia que chegou ao PCC, ela apareceu em um vídeo abusando de uma criança.
A pena sumária imposta
a Érica foi determinada pela Viúva Negra. Quando o corpo da mulher foi
encontrado, a “sintonia” do PCC já estava em Araçatuba, noroeste paulista, onde
tinha parentes.
Ordens pelo zap
Mesmo longe, Adelice
continuou exercendo liderança sobre os membros da facção no Mato Grosso Sul.
Segundo a polícia, o monitoramento das ações criminosas e as ordens relativas a
tarefas locais continuavam acontecendo por meio de “conversas pelo zap”.
Em um trecho de uma
conversa de Viúva Negra com outra criminosa, identificada somente como Madrinha
Bruxinha, ambas discorrem sobre uma lista de nomes e telefones de membros da
facção, especificando as funções desempenhadas e a área de atuação de cada um —
como em tabuleiros na penitenciária feminina estadual do Mato Grosso do Sul e
da Sintonia Geral da Rua do Estado, que controla as atividades de membros da
organização fora das grades.
A prisão em São Paulo
As investigações da
polícia sul-mato-grossense, decorrentes do assassinato de Érica, possibilitaram
que a Polícia Civil paulista chegasse a um endereço em Araçatuba para o
cumprimento do mandado de prisão.
As diligências
aconteceram na tarde de 8 de novembro de 2019, dois meses após a morte de
Érica. Policiais do Grupo de Operações Especiais avistaram Viúva Negra
caminhando por uma rua no bairro Porto Real 2 e a abordaram.
Num primeiro momento, a suspeita se identificou com o nome da cunhada, mas acabou caindo em contradição ao atender a seu nome verdadeiro. Por fim, a “sintonia” do PCC confessou sua identidade.