A Bahia lidera os
índices de violência no Brasil em 2024. Só no primeiro semestre deste ano,
foram registrados 2.087 homicídios dolosos (quando há intenção de matar),
ocasionando, em média, 11 crimes contra a vida por dia. Os dados são da
Secretaria Nacional de Segurança Pública (Sinesp), sistema do Ministério da
Justiça e Segurança Pública (MJSP) que reúne indicadores estatísticos da
Secretaria Pública de cada estado. As informações foram atualizadas no dia 26
de julho pelo órgão federal.
Os números, no entanto,
divergem com as informações divulgadas pela Secretaria de Segurança Pública
(SSP-BA). De acordo com a pasta, a Bahia contabilizou 2.208 mortes violentas de
janeiro a junho deste ano (121 a mais que o anotado pelo ministério). . Questionada
quanto a essa incompatibilidade, a SSP-BA não respondeu. Já o MJSP reiterou que
as informações sobre homicídios dolosos são fornecidas pelas secretarias de
segurança pública estaduais e do Distrito Federal.
“A pasta recebe e
valida os dados eletronicamente junto aos entes federados. Os dados são
coletados por meio do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública –
Validador de Dados Estatísticos (Sinesp VDE)”, esclareceu.
Com a quarta maior
população do país, a Bahia ultrapassou Minas Gerais e São Paulo – que têm as
duas maiores populações, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) – em número de mortes absolutas neste ano, conforme
contabilizou o MJSP. Por outro lado, o estado ficou na quarta posição em
relação à taxa de homicídios a cada 100 mil habitantes, que foi de 29,52. À
frente da Bahia, ficaram Alagoas (35,23), Ceará (38,98) e Pernambuco (40,34).
Ainda, tanto o MJSP
quanto a SSP-BA registraram que houve diminuição de 15% no total de homicídios
em relação ao mesmo período de 2023. Naquela época, 2.534 ocorrências foram
contabilizadas, segundo o órgão baiano, enquanto 2.413 casos do tipo foram registrados
pelo órgão federal.
Para Luiz Claudio
Lourenço, sociólogo, pesquisador de organizações criminosas, professor da
Universidade Federal da Bahia e um dos coordenadores do Laboratório dos Estudos
sobre Crime e Sociedade (Lassos), essa queda de registros de homicídios em
relação ao ano passado não significa necessariamente um caminho eficaz de
combate à violência que assola o estado.
“Se a dinâmica de
guerra ao varejo de drogas continuar, e se não houver uma política efetiva de
diminuição da vulnerabilidade social da população jovem e maior oferta de
oportunidades de vida digna, não vejo muita solução. Essa ‘diminuição’ não
representa nenhuma vida a menos daquelas que já foram perdidas nesta guerra”,
destaca.
Sendo o único a
registrar mais de 2 mil mortes na primeira metade do ano, o território baiano
ainda convive com as reiteradas constatações da hostilidade no cenário da
segurança pública. Há pouco menos de 15 dias, a 18ª edição do Anuário
Brasileiro de Segurança Pública, divulgada no dia 18 de julho, revelou que
6.578 mortes violentas em 2023 colocaram a Bahia na posição de líder do número
de homicídios dolosos no país pelo terceiro ano consecutivo.
Anteriormente, no dia
18 de junho, o Atlas da Violência mostrou que, em 2022, 6.776 vidas foram
interrompidas de forma violenta em território baiano. Também naquele ano, o
estado foi líder em mortes violentas no país. A pesquisa foi produzida pelo
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de
Segurança Pública (FBSP). Os dados tiveram como base números registrados pelo
Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) e pelo Sistema de Informação de
Agravos de Notificação (Sinan), ambos do Ministério da Saúde.
O especialista Luiz
Claudio Lourenço analisa que a persistência da posição de destaque da Bahia
nesses indicadores se deve, além da escalada ininterrupta da violência armada e
das facções, à falta de mudança nos métodos de enfrentamento do Estado. “Se a estratégia
adotada para enfrentar as dinâmicas de violência não muda, como os números
decorrentes dessa dinâmica irão mudar? Não é plausível esperar resultados
diferentes adotando as mesmas estratégias”, critica.
Procurada para um
posicionamento sobre o assunto, a SSP-BA enviou a mesma nota divulgada pelo
órgão estadual no dia 17 de julho. “Reduzimos em 6% as mortes violentas no ano
de 2023 e agora, no primeiro semestre de 2024, o índice apresentou queda de
13%. Os resultados alcançados têm relação direta com o trabalho incansável das
forças policiais. [...] Foram 347 casos em maio e 282 ocorrências em junho. A
integração entre as Forças da Segurança, as ações de inteligência e os
investimentos continuarão norteando o nosso trabalho”, destacou o secretário da
Segurança Pública, Marcelo Werner.
Confira a lista das 15
cidades baianas mais violentas em 2024, segundo dados do Ministério da Justiça
e Segurança Pública:
1. Salvador – 441
2. Feira de Santana –
164
3. Camaçari – 95
4. Juazeiro – 64
5. Jequié – 40
6. Ilhéus – 40
7. Teixeira Freitas –
31
8. Simões Filho – 30
9. Vitória da Conquista
- 27
10. Porto Seguro – 29
11. Dias
D’Ávilla – 28
12. Barreiras – 23
13. Lauro de
Freitas – 20
14. Casa Nova – 20
15. Santo Antônio de
Jesus – 16
*Com orientação da
subchefe de reportagem Monique Lôbo